sexta-feira, novembro 03, 2006

 

Voltando a opinar sobre o aborto...

Tendo saído recentemente no DN um artigo que faz referência à morte de 68 mil mulheres e a milhões de complicações graves provocadas pelo aborto clandestino, floresceram que nem cogumelos por esta floresta da blogolândia milhares de posts, fazendo-se valer desses números, para devolver o chavão de cultura de morte (ridiculamente utilizado pela parte do não) para o outro lado da barricada.

A minha opinião... caíram no ridículo a maior parte daqueles que o fizeram... foram pouco sérios os restantes (e estes é que não têm desculpa...). Não vou pôr em causa o estudo, que aceito e nunca coloquei em causa... Mas é pouco sério querer associar aquelas 68 mil mortes de mulheres à liberalização do aborto do nosso país...

Desde logo porque se trata de um número resultante da prática de abortos clandestinos no mundo, afirmando o próprio estudo que apenas 3% diz respeito aos países desenvolvidos (embora não nos pareça, Portugal encontra-se incluído neste grupo).

Depois, porque o estudo não refere qual a percentagem naquele número dos abortos praticados até às 10 semanas... sim, porque, caso não tenham ainda reparado, caso o sim vença e com a liberalização do aborto até às 10 semanas, uma mulher portuguesa que decida recorrer a um aborto às 11 semanas de gestação continuará a ser punida pelo código penal...

E aqui levanta-se uma questão pertinente, quantas das gravidezes indesejáveis são detectadas pela mulher até às 10 semanas... quantas das gravidezes indesejáveis são detectadas por uma adolescente até às 10 semanas... não vejo ninguém sequer levantar a questão...

Mas a falta de seriedade no debate do aborto vai ainda mais longe... a solução salvadora apresentada, a panaceia para todas estas mortes é a liberalização do aborto... e para atingir esse objectivo, não interessa manter uma discussão séria, interessa divulgar estudos e números sensacionalistas que criem impacto...

Mas existem muitos outros estudos... não vejo nenhum defensor do sim apresentar as complicações que podem advir de um aborto realizado num estabelecimento de saúde legalmente autorizado... se estiverem interessados podem ler aqui
e aqui alguns estudos sobre o tema.

Mas a falta de seriedade não é um exclusivo do sim... ao apresentarem imagens de fetos, argumentar com políticas de natalidade ou recorrerem a chavões tipo cultura da morte, os defensores do não contribuem igualmente para que o debate se mantenha no nível em que se encontra.... muito baixinho...

O tempo vai passando e a discussão acerca do aborto continua a ser pouco séria, interessando mais o sensacionalismo, as imagens chocantes, os números pornográficos, insultar e querer ridicularizar quem não concorda connosco... existem algumas excepções em ambos os lados mas são abafadas na multidão.

Enquanto não for interiorizado que num tema fracturante como este, interessa procurar atingir um consenso entre as diferentes opiniões e não partir para a discussão como se de uma batalha se tratasse, o aborto nunca será discutido seriamente...

P.S. Fui acusado nos meus comentários a posts noutros blogs de desvalorizar a vida humana, tendo sido colocado em questão o meu próprio conceito de vida humana... para esclarecer dúvidas, a vida para mim tem o mesmo valor quer seja de uma criança, mulher ou idoso, a vida para mim é “priceless”.

E é exactamente por esse facto, que não consigo perceber, e ninguém ainda me conseguiu explicar, essa linha que se pretende traçar entre não existir vida até às 10 semanas e passar a existir vida após as 10 semanas... e enquanto não me apresentarem uma explicação racional, in dúbio pró feto.

Outra questão, caso apareça alguma pessoa ligada ao direito penal por aqui, o homicídio é agravado (homicídio qualificado) caso a vítima seja uma mulher grávida. Com a liberalização do aborto, se o homicida matar uma mulher grávida de 9 semanas, passará a ser punido com a pena de homicídio simples???

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