quarta-feira, dezembro 06, 2006

 

Sim, novamente a IVG...

Já começaram a florescer que nem cogumelos na floresta depois de uma noite diluviana vários posts sobre a temática do aborto... temos que nos ir habituando... vou aqui opinar acerca de algumas opiniões neles contidas...

Começo com uma destas, infelizmente muito corrente, que defende que nunca deveria ter havido referendo, sendo que alguns mais radicais defendem mesmo que apesar de já ter havido um referendo não haveria "necessidade" de realizar um agora... seria tudo feito no parlamento, onde, refira-se, os senhores deputados não precisam do fim-de-semana de sol para escaparem a uma votação (passem pelo canal parlamento de vez em quando e vejam... as cadeiras vazias!). Sim, para quê deixar os portugueses decidirem, esses gajos nem conseguem perceber os benefícios que estão em causa que são tão claros e óbvios para todos e ainda fazem como da outra vez e não vão votar, preferindo ir para a praia... (ora tomem lá que o cavaco marcou o referendo para fevereiro, por isso nada de praia, e lembrou-se de marcar para o fim-de-semana antes do carnaval!!!). Democracia, os eleitores a terem o poder de decisão nas suas mãos, onde é que já se viu isso! Atestados de estupidez ou menoridade intelectual, não obrigado!

Em seguida temos os defensores da retirada de consequências políticas do resultado do referendo, caso este seja não vinculativo... se a decisão dos portugueses for pelo sim, mas não votem 50% mais um eleitores, o parlamento deve, mesmo assim, legislar... mas nesse caso, não deveriam os deputados estar quietinhos, no respeito pelas consequências políticas a retirar do referendo de 1998... ou só devemos retirar consequências políticas dos resultados que nos convêm...

A constituição estabelece que o resultado do referendo só é vinculativo quando votarem 50% mais um dos eleitores... não gostam, mudem o estabelecido na lei (e para mudar a constituição ainda não são precisos referendos...), mas não a atropelem... fico com a sensação que teríamos referendos até o resultado ser a vitória do sim e só existirão consequências políticas a retirar caso seja o sim a vencer...

Depois, vem a tentativa de reduzir o assunto a um único aspecto, a única coisa que está em causa é a despenalização da mulher que aborta e nada mais, ponto final parágrafo. Qualquer fenómeno resulta de múltiplas variantes... como é que pessoas com formação em sociologia conseguem dizer uma barbaridade destas... é como dizer, com as devidas distâncias, que quando votamos para as legislativas só estamos a escolher deputados, não existem programas eleitorais, não existe um primeiro-ministro, propostas ou políticas a levar em consideração... mas compreendo este ponto de vista, evita debater problemas associados que não interessa discutir.

Até ao dia de hoje só uma rapariga shy de um blog menageiro conseguiu transmitir-me um argumento 100% válido justificativo de uma opção verdadeiramente livre pelo aborto: quando uma mulher toma todas as precauções para evitar a gravidez e os métodos anticonceptivos falham... num dos posts da menina até encontramos um interessante e curioso exercício matemático acerca da probabilidade de uma gravidez indesejada acontecer a uma mulher que tomou todas as medidas para evitar essa mesma gravidez.

Com somente este argumento em mente, eu votaria sim... sem qualquer dúvida! Mas a minha consciência e o que assistimos no dia a dia não o permite...

Não o permite porque passaram mais de oito anos sobre o último referendo e nada foi feito pela evolução da educação sexual dos portugueses... admite-se que jovens tenham noções disparatadas sobre a sexualidade em pleno séc.XXI... admite-se que uma cidadã recorra a um centro de saúde para uma consulta de planeamento familiar e lhe sejam negados os meios contraceptivos porque não se fez acompanhada do boletim de saúde... (quer preservativos, só depois de ver que está com a vacina do tétano em dia menina!!!)... admite-se que meios contraceptivos custem o que custam no nosso país, enquanto noutros países são distribuídos gratuitamente...

Não o permite porque passaram mais de oito anos sobre o último referendo e nada foi feito pela protecção da mulher grávida... admite-se uma mulher grávida ter que fazer quilómetros e mais quilómetros pelas estradas portuguesas, com a sua reconhecida qualidade, para ter acesso a uma maternidade e ter um filho em segurança... admite-se uma mulher ser discriminada no trabalho porque toma a decisão de ter um filho... admite-se que não sejam garantidas as condições de dignidade necessárias para uma mulher poder optar por ter o seu filho...

Não o permite porque passaram mais de oito anos sobre o último referendo e as pessoas ainda não aprenderam que não se trata de uma questão partidária, que de um lado não estão os bons e do outro os maus, que mais que fracturas devia haver consensos, porque, com algumas poucas e honrosas excepções, não existe um verdadeiro debate racional sobre o assunto, privilegiando-se o confronto e o insulto...

Por tudo isto (e algumas coisas mais) vou votar não, porque não considero que na sociedade portuguesa existam condições para uma efectiva escolha livre... porque enquanto a opção a tomar for entre ter um filho "obrigada" e não ter um filho por não ter condições para o ter não estamos perante nenhuma escolha... quando no meu país as mulheres tiverem as mesmas condições que os tão insistentemente referidos países catalogados de mais evoluídos providenciam a uma mulher grávida, assegurando a necessária dignidade para se poder optar por ter um filho, defensores do sim, nem precisam de fazer campanha, o meu voto é vosso!!!

Comments:
É incrivel a forma como te expressas sobre este assunto e que infelizmente é verdade e se fosse preciso assinava por baixo!!! Concordo com o que dizes. Não existe consciência séria sobre este assunto!!!
A maior parte das pessoas nem chegam a analisar a fundo a questão, vêm na apenas superficialmente a acredito que até há quem pense: " o sim vai ganhar vou votar sim" existe quem não se preocupe minimamente sobre isto!! Existem pessoas que para elas ser ou não despenalizado é completamente despreocupante! É triste mas são estes os portugueses que existem neste Portugal que supostamente é evoluido!
 
a medida do exercício matemático vai voltar ao ataque (deixo, para já, a parte do referendo em paz). Desde logo o que está efectivamente em causa no referendo é a despenelização da mulher que aborta, sim. Existe uma lei em Portugal que diz que as mulheres q façam um aborto têm uma pena de prisão (entre 1 e 3 anos, se não estou enganada. Presumo que estejamos todos de acordo em defender que num estado de direito as leis existem para serem cumpridas, certo? Por aqui só me resta um "I rest my case".
Avancemos... se calhar era capaz de valer a pena fazeres uma pequena prospecção sobre quem têm sido os grandes responsáveis pela não aplicação (em meio escolar) de verdadeiras políticas de educação sexual. Neste caso, e infelizmente, sei bem do q falo porque tenho filhos (1 adolescente e outra pré-adolescente) e já senti bem o poder das "associações de defesa da família2 e quejandos e a forma como conseguem minar - felizmente não completamente - as tentativas das escolas implementarem uma educação sexual (e para a sexualidade, deixemo-nos de merdas) sensata.
Ah! A questão das maternidades é curiosa. Nós que tanto ansiamos assemelhar-nos aos países desenvolvidos do Norte da Europa, qdo o que se passa por lá não nos interessa fazemos de conta que não existe. És mais novo q eu, não te deves lembrar da verdadeira revolução que existiu nos cuidados materno-infantis durante os anos 80, qdo foram fechados mais de 150 blocos de partos, medida essa que se traduziu numa franca diminuição da mortalidade puerperal. Um bom bloco de partos exige especialistas de várias valências. É completamente idiota formar especialistas em barda (cuja formação é caríssima)para dotar cada "pintelhice" de seu neonatalogista, anestesista, etc etc... Se fores ver como estão organizados os hospitais dos tais países do Norte da Europa constatarás (e falo por experiência própria de novo, porq vivi pelos nortes durante uns anos) que os blocos de partos existentes cobrem uma área geo-demográfica muito maior do q qqr um dos blocos de parto previstos em Portugal. Se nunca foste pai e se algum dia o fores aconselho-te, aliás, q, ao escolheres o hospital onde a criança nascerá, escolhas os q mais nascimentos têm por ano. A quantidade, é neste caso, uma mais-valia técnica do caraças. Voltando... nenhuma mulher cospe um puto em 5 minutos (ooh, I wished), a rede viária portuguesa permite, neste momento, que uma grávida seja deslocada para um bloco de partos DECENTEMENTE equipado e com o pessoal aconselhável mais do q a tempo. Tudo o resto são "regionnalicises" à la portuguesa...
Posso dizer porra? estou aflita do ombro, continuarei depois... por mail ou assim, ok?
 
ah! era a "menina do exercício matemático" e não a medida, bien sure
 
em primeiro lugar, podes dizer porra à vontade :)

em relação aos obstáculos à implementação de uma verdadeira educação sexual nas escolas, não me interessa quem impede... interessa-me que não existe essa e deveria existir... que país é este que não consegue fazer algo que é muito mais simples que a despenalização do aborto...

em relação ao teu rest my case, basta ver os direitos consagrados na constituição e que não são cumpridos... é mais importante a despenalização do aborto em relação ao direito a uma habitação condigna, o direito ao trabalho ou o direito à educação...

concordo quando dizes que o fecho de maternidades concorreu para a melhoria da qualidade dos cuidados de maternidade. Comparares as vias de comunicação do norte da europa ou as viaturas em que é efectuado esse transporte no nosso país é um bocado díficil... é que não existe comparação... e basta veres nas notícias quantos putos já nasceram pelo caminho elvas - badajoz...

por último, as melhoras desse ombro ;) e até breve!
 
Cuidado com as imagens idílicas que fazemos de outros países. E resta saber se betonar à fartazana tem alguma coisa de idílico. É-me muito fácil falar sobre essa história das maternidades nos nortes porque acompanhei de perto o nacimento da filha de uma amiga qdo vivia no norte de França. Se te quiseres dar ao trabalho tenta descobrir uma pequena aldeira no Pas-de-Calais chamada Fléchin, a seguir localiza Arras... é aí que se situa o Centre Hospitalier da região e é aí que as mulheres da zona têm os filhos. Repararás com certeza q a distância não é curta e, garanto-te, as estradas não são auto-estradas nem nada q se pareça. Well, mas isso desvia-nos do q interessa... Ora para ti, se bem percebo, pelo facto do portugal não ser perfeito as mulheres devem ser castigadas. Certo? se pensares bem é isso q defendes. Ah! acho q não percebeste o "I rest my case", o q estava a dizer é, "Não me fodam com paninhos quentes, se acham que é crime então assumam e metam-me a mim, e mais umas valentes centenas de milhares de mulheres a bater com os costados na prisão"
 
percebi sim senhora o teu rest my case, apenas te demonstrei que leis existentes a não ser aplicadas encontras por aí ao pontapé... o que não quer dizer que concorde com a situação, mas é um facto... então acabem-se com todas as leis que não são aplicadas: direito à educação, não discriminação, direito à saúde, direito a uma habitação condigna, direito ao trabalho...

e defendo que uma situação que não está correcta não é resolvida por outra situação que também não está correcta... e se tu pensares bem, mesmo que o sim vença, a maior parte dos casos de abortos julgados (sim, porque a despenalização é somente até às 10 semanas) vão continuar a ter que ser julgados... sim, porque não me venham dizer que todas as gravidezes indesejadas são descobertas até às 10 semanas... tu que tens educação sexual, à tua "custa" e possivelmente da tua família, se calhar soubeste que tavas grávida antes das 10 semanas, achas sinceramente que em todos os casos é assim???

vai fazer umas férias de inverno em trás-os-montes e depois vem me falar em distâncias... exemplificar com países que têm estradas secundárias (pelo menos classificadas como tal) que são melhores que as nossas auto-estradas não faz muito sentido...

já agora és capaz de me dizer as condições disponibilizadas a uma mulher grávida nesses países que pareces conhecer tão bem? segundo me consta existem países nórdicos em que a mão pode optar por ficar 2 anos em casa com o vencimento garantido e sem perder o emprego...
 
:-) os exemplos não te correm bem, eu faço férias de inverno em trás-os-montes desde que nasci e as estradas do exemplo que te falei (em fléchin) não são muito diferentes.
Podemos falar de medidas de apoio à maternidade (e paternidade!) se quiseres, mas não é isso que neste momento se discute. O que o referendo está a perguntar às pessoas é se as mulheres que abortam ou não devem ser presas, as simple as that.. Por outro lado não me reduzas, por favor, a maternidade a boas condições logísticas e económicas. Já escrevi antes, e acho que tu leste, que por para mim um filho ser tão importante é que defendo que deve ser tido quando uma mulher o deseja. Muito mais importante que os dias de licença de maternidade, que o dinheiro que se leva para casa ao fim do mês, é, garanto-te, a capacidade de te investires inteirinha/o (aqui não há meias medidas) no teu filho, de teres disponibilidade mental para tal...
 
A tua frase “Ora para ti, se bem percebo, pelo facto do portugal não ser perfeito as mulheres devem ser castigadas. Certo? se pensares bem é isso q defendes.” deixou-me aqui a matutar... acho que não consegui transmitir na íntegra a minha ideia e, ficando a pairar esta tua frase que é forte, as duas ou três pessoas que lêem o que eu escrevo :) vão ficar com uma ideia errada acerca da minha pessoa...

Apesar de não ter o dom da escrita, vou tentar ser mais claro: a minha opinião é que uma mulher que actualmente tem a coragem de ter um filho (e utilizo conscientemente a adjectivação coragem, uma vez que a decisão de ter um filho hoje em dia tem custos económicos, psicológicos e pessoais de grande peso que tu como mãe deves saber muito melhor que eu!) e que não tem a porta de recorrer ao aborto aberta, com a liberalização que vai acontecer caso a alteração proposta seja implementada vai acontecer que essa mulher se calhar vai, pelo menos, pensar na possibilidade de recorrer ao aborto...

E deves estar tu a pensar, e depois? Qual o problema? É exactamente essa possibilidade de escolha poder ser feita livremente e sem criminalização pela qual se está a lutar...

Mas enquanto tu pensas em todas as mulheres que estão grávidas, que têm todas as condições para criar um filho em condições dignas mas que optam por não ter esse filho, recorrendo ao aborto, e que deviam ter acesso a poderem realizar esse procedimento em condições dignas e em segurança e sem serem penalizadas criminalmente... ou seja, tu pensas nas mulheres que podem mas não desejam...

Eu penso antes naquelas mulheres que com esta lei que existe, grávidas e sem reunirem as condições para criar um filho em condições dignas, não podendo optar pelo caminho (muito mais fácil) que seria o aborto, são obrigadas como vocês dizem a ter um filho e são obrigadas a lutar para lhe proporcionar as condições de dignidade que merecem... ou seja, eu penso nas mulheres que desejam mas não podem...

E é por existirem muitas mulheres nestas condições que eu penso que esta liberalização não é uma solução correcta... porque se tivesses na situação de uma dessas mulheres, achas que tomarias uma decisão totalmente livre???

E disponibilidade mental, capacidade e vontade de investir num filho não é sinónimo de ter condições para o criar... sem ovos não se fazem omeletes... por muita vontade que tenhas de fazer omeletes...

Se a lei existente impedir uma mulher que seja, inserida neste último grupo, a realizar um aborto porque não lhe são proporcionadas as condições para cria um filho, mantenha-se a lei... porque o aborto tem que ser uma decisão tomada por uma mulher com todas as condições para poder ter um filho... não deve ser uma solução para quem não pode assegurar condições de dignidade a um filho...

Não sei se fui completamente explícito mas tens de me dar alguns pontinhos pela minha tentativa...

acho que acabamos os dois por ter razão na maioria dos pontos focados por cada um porque estamos a falar de pontos de vista diferentes...

eu não concordo com a apresentação segmentada que se está a pretender fazer... enquanto para uns está apenas em causa a pena de prisão, para outros, como eu, a análise terá que ser mais vasta...

Esse ombro tá melhor?

P.S. Penitencio-me pelo meu exemplo das estradas... estou com azar nos meus exemplos :) mas a falar é que a gente se entende não é verdade... e sempre vou conhecendo um bocado melhor a realidade do estrangeiro graças a ti!
 
Como o ombro não está melhor cá vai um comentário curto e grosso:

Darling, mete na tua cabecinha que qqr mulher que decide abortar fa-lo-à seja o aborto crime ou não. Partindo deste pressuposto deixa de andar às voltas e responde: deve ou não ser presa por isso? Deve poder fazê-lo em situações médico-sanitárias decentes ou não? O que está aqui em causa é apenas isto.
 
e onde é que aquilo que tu acabaste de dizer contraria aquilo que eu disse que é que em determinadas circunstâncias uma mulher que não abortasse com a actual situação poderá estar mais predisposta a optar por um aborto caso a despenalização avance...

tu gostas de segmentar, eu gosto de ter uma visão mais ampla e considero que a liberalização vai ter implicações mais vastas com as quais não concordo...

existem mais razões para optar por um aborto... não é só por uma questão de desejar ou não investir na criança ou ter disponibilidade mental... existe quem queira investir e não possa, e a minha consciência não permite que por não ter as restantes condições para ter um filho se dê como solução o aborto...

consegues-me garantir que não vai existir uma mulher que seja que desejando ter um filho, mas não tendo condições para assegurar uma vivência digna ao mesmo, não vai optar pelo aborto???


as melhoras do ombro!
 
:))

humm, posso??

sobre tal assunto só digo q n sou contra o dito...mas n voto, pelo simples facto de cada vez mais gajas o usarem como meio contraceptivo...infelizmente é uma realidade nos dias de hoje e temo q cada vez a coisa se complique mais...

é assim: q façam os referendos q quiserem keu n tou nem aí, q me perguntem pq n vou votar e eu responderei a um portugal inteiro se quiserem...

sem mais

atenciosamente

bjinhus

Sandra.
 
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