quinta-feira, dezembro 21, 2006
Bocage...
A forma como, actualmente, se perspectiva Bocage é mutiladora e parcelar. Com efeito, apenas uma parte da sua obra é conhecida...
No que diz respeito à sua poesia, normalmente apenas se têm em consideração os sonetos, bem como as composições de carácter erótico e satírico. Poucos são os que estão cientes da actividade de Bocage como tradutor, permanecendo igualmente desconhecidos os seus poemas compostos para serem musicados e as suas breves incursões no âmbito dramático...
Deste modo, a avaliação da obra de Bocage é, por vezes, feita a partir de conceitos redutores que a empobrecem sobremaneira... confundindo erotismo com pornografia vinculam o poeta a mais um estigma... outro estereótipo que menoriza o poeta prende-se com o extenso anedotário que lhe é atribuído. A generalidade da população identifica Bocage com muitas anedotas que proliferaram na nossa sociedade...
Lá quando em mim perder a humanidade
“Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:
Não quero funeral comunidade,
que engrole sub-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
"Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."
Para Bocage, tudo passava pelo crivo da razão, não havendo personalidades ou verdades intocáveis, facto potenciado por um humor corrosivo e pelo sentido do ridículo que o escritor tão destramente manipulava... faleceu no dia de hoje no ano de 1805, na cidade de lisboa...
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