segunda-feira, dezembro 18, 2006

 

De boas intenção... nós já sabemos, encontra-se o inferno cheio!!!

Joana amaral dias, psicóloga, uma das mulheres (além de ser gira) de quem eu gosto de ler as opiniões (à semelhança de fernanda câncio), não por me considerar próximo da sua veia ideológica, mas porque, normalmente, conseguem transmitir um pensamento estruturado que nos deixa a pensar... e tudo o que nos faz pensar acho que é uma contribuição positiva!!!

Mas, dizia eu, joana amaral dias pegou também no outdoor do movimento do não, para fazer um pequeno exercício de afirmação do sim...

"Porque tomo a discussão sobre o aborto como séria e necessária, não posso deixar de debater esta mensagem, embora não seja esta a questão que vai a referendo. Independentemente da posição individual de cada cidadão sobre a IVG, o que vai ser referendado é a liberdade de escolha" afirma...

E desenvolve... "A pergunta "Quando começa a vida?" é complexa e pode ser perspectivada sobre vários pontos de vista. Biológico, médico, jurídico, filosófico, ético, moral, religioso. E dão-se respostas opostas, contraditórias e interessantes em todos estes ângulos. Contudo, colocar no mesmo patamar a vida do feto e a vida da mulher é falacioso. Desde logo porque a vida da mulher é uma vida autónoma, enquanto a vida do feto é uma vida potencial. Tanto assim é que se o leitor imaginar que há um fogo numa clínica de fertilidade e que ou salva cem balões de ensaio - cada um com um ovo humano acabado de fecundar - ou salva um bebé recém--nascido, certamente que não hesitará"...

Finalmente, "Se os defensores do "não" equivalem a vida fetal à vida autónoma, deviam defender, sem tréguas ou excepções, não apenas o julgamento e prisão das mulheres ou casais que abortam, como a vigência de penas semelhantes ao infanticídio para tais criminosos. E talvez até preferissem salvar cem balões de ensaio"...

Mais uma vez, a defesa do sim é feita através da tentativa de desvalorizar pela contradição aqueles que defendem o não...

Mas, debrucemos nos sobre algumas das ideias da joana amaral dias... todos sabemos qual é a pergunta que vai a referendo, mas porquê esta fixação dos defensores do sim em afirmar todos os dias que não é a questão da vida, ou o início dela que está em causa... que o que está em causa é a liberdade de escolha...

Não poderão os partidários do sim aceitar que existam pessoas que considerem que o início da vida se dá com a fecundação... ora, para estas pessoas, o que está a referendo é a liberdade de escolha, a liberdade de escolha de alguém poder matar outro ser... o que está a referendo é a vida... poderão não concordar, poderão argumentar com definições de vidas autónomas e vidas potenciais, mas não podem afastar, porque lhes convém, uma das condicionantes mais decisivas na tomada de decisão face à questão do aborto...

Relativamente ao início da vida, é verdade que a perspectiva sob cada ponto de vista é oposta e contraditória... e isso passa-se porque a verdade absoluta sobre o início da vida ainda não existe... ninguém conseguiu ainda definir sem dúvidas a partir de que momento existe vida... não se conseguindo definir, não existem perspectivas mais correctas ou menos correctas... não podemos querer afastar um ponto de vista diferente apenas porque não nos dá muito jeito para o resultado que desejamos...

No que se refere ao exemplo utilizado pela joana amaral dias, acho que o mesmo não foi lá muito bem conseguido... diz ela que existindo um fogo numa clínica de fertilidade e perante a escolha de salvar entre um recém nascido e salvar cem balões de ensaio com óvulos fecundados não haveria hesitações... e que os defensores do não, para serem coerentes, teriam que optar pela escolha dos cem balões de ensaio...

Como partidário do não (o que não é sinónimo de defensor...), permitam-me que aponte algumas incoerências no seu exemplo... desde logo, porque desejou comparar o incomparável... vejamos, tentou joana amaral dias comparar uma clinica de fertilização onde existia um recém-nascido (vida autónoma) e balões de ensaio com óvulos fecundados (vida potencial) com uma gravidez em que existe uma mulher grávida (vida autónoma) e um feto (vida potencial)...

Eu compreendo a tentativa, mas, sinceramente, acho que falhou rotundamente...

Encontrando-se em risco recém-nascido e balões de ensaio, não existem dúvidas que, na impossibilidade de salvamento de ambos, qualquer pessoa, partidária do não ou do sim, optaria por salvar a criança... tal como encontrando-se em risco a mulher grávida e o ser que esta porta dentro de si, na impossibilidade de salvar ambos, a opção seria sempre o salvamento da mulher...

E esta opção encontra-se de acordo com o que se encontra previsto na actual lei em vigor... não existem dúvidas que, em caso de risco de vida, a vida autónoma terá precedência sobre a vida potencial... agora, querer comparar uma gravidez normal com uma gravidez de risco (o tal fogo na clínica), não me parece correcto... o que joana amaral dias não percebe (ou percebe porque é uma mulher inteligente mas não lhe interessa abordar...), é que existem pessoas, que embora aceitem que uma vida autónoma não é o mesmo que uma vida potencial, não concordam que uma vida por ser autónoma possa dispor como bem entender de uma vida potencial...

Se conseguirem afastar do debate o problema subjacente a esta questão, que face à inexistência de resposta científica esclarecedora, não tem ainda resposta absoluta, o problema de consciência (uma das grandes batalha entre o sim e o não) é afastado... daí o constante relembrar e reafirmar de que o que está em causa é somente a liberdade de escolha...

A honestidade intelectual, ou falta dela, também se pode comprovar nestas pequenas coisas...

Comments:
"Não poderão os partidários do sim aceitar que existam pessoas que considerem que o início da vida se dá com a fecundação... " - eu aceito isso perfeitamente... agora será que os partidários do Não aceitam que existam pessoas que não consideram isso??
 
podem e devem aceitar... o que não é sinónimo de concordar ou querer afastar da discussão...

agora não podem alguns a coberto de uma capa de honestidade e armados em paladinos do esclarecimento apontar o dedo a certo tipo de conduta e depois enveredar pelos mesmo caminho que consideram desonesto, confuso e de aposta na ignorância...
 
a questão essencial é saber se a Joana Amaral Dias é boa ou mesmo muito boa... :-)
 
eu considero-a uma mulher deveras interessante... e muito boa :)
 
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