terça-feira, outubro 17, 2006

 

O Aborto!!! Despenalização SIM – Liberalização NÃO!!!

Está na ribalta novamente a questão do aborto! A discussão parece estar extremada e limitada aos defensores do sim e aos defensores do não... mas não existirá uma terceira via???

Eu insiro-me numa terceira via no que respeita à questão do aborto. E perguntam vocês que terceira via é essa? É aquela que não concorda completamente com o sim nem concorda completamente com o não, reconhecendo méritos e absurdos em cada uma das posições...

Dito de outra forma, concordo com a despenalização criminal do aborto, mas acho que isso não pode implicar a liberalização da interrupção voluntária da gravidez. Mais, não consigo perceber porque é que se defende que esta decisão tem de ser única e exclusivamente uma decisão pessoal da mulher...

A pergunta «Concorda com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada, por opção da mulher nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?» dá que pensar...

Não me estou a referir a questões científicas (mais ou menos semanas), ideológicas, morais ou religiosas subjacentes a esta questão... acho que cada um deve pensar de acordo com a sua consciência!

Refira-se que a interrupção voluntária da gravidez já se encontra prevista na lei... existe o aborto em casos de violação, existe o aborto em casos de mal formação grave do feto ou ainda o aborto para manter a gestante viva...

Relativamente aos defensores do sim, os argumentos utilizados baseiam-se principalmente na vontade da mulher e nas condições económicas, sociais e psicológicas que são necessárias para criar uma criança de uma forma minimamente digna.

Não estaremos a inverter as coisas, isto é, querem me dizer que uma mulher se não tiver condições económicas para ter uma criança vai sempre optar pelo aborto??? Não preferirá essa mulher que lhe permitam ter as condições económicas que lhe permitam assegurar esse mínimo de dignidade à criança??? Não é para isso que supostamente existe um estado de previdência...

E será que estes senhores conhecem o termo contracepção??? Acham estes senhores que já existe suficientemente informação nas pessoas acerca dos meios para prevenir uma gravidez indesejável??? Querer comparar legislações sobre a interrupção voluntária da gravidez entre países onde existe uma verdadeira política de educação sexual e o nosso país é uma verdadeira insensatez...

No fundo, a ideia com que fico é que em vez de se investir (se calhar o problema está aqui) por forma a proporcionar condições para se poder ter os filhos ou proporcionar informação e os meios para prevenir uma gravidez indesejável apostamos tudo na derradeira possibilidade, o aborto!

Tenta-se resolver um problema que existe e é real por decreto, quando na essência da questão encontram-se pessoas... (não posso deixar aqui de comentar o que o governo fez à situação das crianças com necessidades especiais: o facto de não existirem pessoas suficientes com a formação necessária para responder a estas crianças não resultou numa aposta do governo na formação de mais pessoas com as qualificações necessárias. Por decreto, definiram-se critérios mais restritos para o que é uma criança com necessidades especiais e, assim, de um dia para o outro, 60.000 crianças com necessidades especiais passaram a 12.000... acho que não é assim que se resolvem os problemas).

E querem me dizer que o drama pessoal e os problemas psicológicos resultantes de uma interrupção voluntária da gravidez realizada clandestinamente desaparecem com a sua realização efectuada num estabelecimento de saúde legalmente autorizado???

Discutamos agora o argumento mais utilizado, o politicamente correcto do ponto de vista feminista, do corpo é meu... para além do ridículo que é assistir a mulheres de barriga à mostra com frases escritas do género "aqui mando eu" (ridículo das frases não da barriguinha à mostra...), que eu saiba, para se conceber, são necessárias duas pessoas. A barriga pode ser da mulher, mas o que está lá dentro é em "regime de co-propriedade"!

Vamos fazer um pequeno exercício, uma noite mais quente resulta numa gravidez:

Situação 1: o pai e a mãe, por algum motivo, decidem conjuntamente que não possuem condições para ter a criança, acho que todos aceitam uma interrupção voluntária da gravidez num caso destes;

Situação 2: a mãe decide que não tem condições para ter a criança mas o pai deseja e tem condições económicas, sociais e psicológicas para ter a criança, sendo a mulher a decidir, interrupção voluntária da gravidez;

Situação 3: a mãe decide que tem condições para ter a criança, o pai não tem condições económicas, sociais ou psicológicas para ter a criança, sendo a vontade da mãe a prevalecer, nasce a criança. Mas, fica o pai desobrigado??? A resposta é não, pode ser obrigado judicialmente a fazer um teste de paternidade e a pagar pensão de alimentos...

Daí eu defender que a interrupção voluntária da gravidez deva ser uma decisão conjunta, não faz sentido ser uma parte a decidir sobre algo que implica duas partes! Quer dizer que a mulher tem a liberdade de interromper voluntariamente a gravidez (por exemplo, por privilegiar a carreira ou não querer abdicar de certo estilo de vida), mas o homem encontra-se sempre dependente e na dependência da decisão da mulher...

Sabem que se adquirirem um bem no estado civil de solteiro, bem esse adquirido única e exclusivamente com o vosso esforço, casarem na posse desse bem e decidirem vendê-lo na vigência do casamento necessitam de autorização da outra parte??? Se uma questão meramente patrimonial exige uma decisão conjunta, porque não fomentar uma decisão conjunta neste assunto...

Daí a minha apologia de se tentar privilegiar uma decisão conjunta! Estão em causa implicações para não uma pessoa (a mulher), mas para duas pessoas... uma decisão conjunta responsabiliza as duas partes!

O Sócrates veio lançar alguma luz sobre o assunto, gostei de ouvir que o que se pretende é a despenalização criminal das mulheres e não a liberalização do aborto! Vou esperar para ver a campanha e as medidas apresentadas para que essa despenalização não se torne numa desresponsabilização, tornando a interrupção voluntária da gravidez um mero meio contraceptivo adicional a juntar aos que já existem...

Mas que se deixe o sr. primeiro ministro de invocar a hipocrisia da existência de uma lei que não é aplicada pelos tribunais como justificação por si só, uma vez que ele próprio e o seu governo atropelam muitas das leis que deveriam respeitar... aconselho ao sr. primeiro ministro a leitura da Constituição da República Portuguesa, podendo ele tomar nota de todas as garantias e direitos consagradas a todos os cidadãos que pura e simplesmente os governos não respeitam... vai o sr. primeiro ministro defender a abolição da constituição porque é uma hipocrisia existir uma lei que consagre direitos e garantias que não são aplicados na prática???

Relativamente ao não, os argumentos são absurdos, passando desde a defesa da família, da tentativa de apresentar um feto como uma entidade jurídica, a degradação da própria mulher, defesa de políticas de natalidade... O único argumento que me diz algo é exactamente o da despenalização poder resultar numa liberalização, sendo apresentadas medidas para criar condições para que se possam ter filhos ou para que se possa evitar uma gravidez indesejável.

Para se conceber um filho são preciso duas pessoas dispostas a isso. A inconsciência é a única justificação hoje em dia para uma gravidez indesejável... não sou de esquerda ou de direita... não tenho religião nem sou seguidor de nenhuma ideologia... neste assunto penso somente com a minha consciência!

Para mim, a solução correcta passa pela despenalização (assente numa decisão conjunta), acompanhada de toda uma panóplia de medidas tendentes a evitar que uma mulher tenha de recorrer à interrupção voluntária da gravidez! Querer cingir esta discussão à mera despenalização criminal como se está a fazer não é correcto! Uma interrupção voluntária da gravidez deverá sempre resultar de uma decisão conjunta bem ponderada, uma última alternativa quando estiverem esgotadas ou tiverem falhado todas as possibilidades e não ser encarada como a grande solução!

P.S. Só mais uma questão para juntar à polémica... se porventura o resultado do referendo for pelo sim, mas não vinculativo, à semelhança do anterior, que legitimidade é que existe para alterar a situação??? Se uma votação onde o não ganha, por ser não vinculativa permite condições para a realização de um novo referendo, não permitirá uma votação onde o sim ganha, mas com uma participação inferior aos 50%, a realização de novo referendo???


Comments:
E se o casal nunca chegar a acordo ? Como se faz ? Vai-se para tribunal ? Quando se resolver o caso já o puto nasceu e foi prá tropa!!!
Para mim uma coisa é óbvia, a decisão final é e será sempre da mulher, quer se queira quer não, será dela que o bebé sairá, não será de dentro do homem.
 
nesse caso o mal está no tribunal e não na decisão conjunta... em vez de se melhorar a justiça opta-se pela saída mais fácil... em vez de dar condições opta-se pelo aborto... em vez de formar professores opta-se por reduzir artificialmente os alunos com necessidades especiais... por isso é que o país está como está!!!

são apenas um conjunto de questões que não vejo ninguém responder...
 
Fiquei com vontade de aqui voltar com mais tempo mas, entretanto, há algumas pontas q podem ser pegadas por aqui:
http://womenageatrois.blogspot.com/2006/10/minimal-repetitiva-pois-mas.html
 
Shyznogud, as portas estão sempre abertas!
 
Tá excelente a posta da Shyzverygud (passe a graxa).
E invertendo as coisas...as mulheres que vêm bater à porta a dizer que estão grávidas e que tens que assumir a criança...aí já não se acha tanta graça e pedem-se exames de ADN e mais não sei o quê. lol
Humor negro para aliviar isto: se a criança saísse do homem seria cagada e não parida, o que convenhamos é uma grande porcaria ! :-(
 
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