sábado, janeiro 13, 2007

 

Azares versus negligências...

Não vou aqui discutir o resultado do referendo... vamos todos supor que o sim ganha e a lei é alterada...

Todas as mulheres a partir da data de alteração da lei poderão “livremente” optar pela realização do aborto em estabelecimento de saúde, assegurado (por outras palavras, pago) pelo estado...

Sempre que tento introduzir este debate sou logo engolido pela verborreia do sim que me sufoca com a afirmação de que o que interessa é a vontade da mulher, e não os motivos que levam ao aborto...

Não vou aqui explicar novamente acerca da definição de decisão livre ser algo discutível em determinadas circunstâncias... que liberdade existe na escolha de uma mulher que tem de optar entre não ter um filho (aborto) e ter um filho mas não ter condições de assegurar a sua vivência (para não dizer sobrevivência) digna...

Mas hoje vou antes abordar a situação por um prisma pelo qual quem discute este assunto comigo “foge como o diabo da cruz”...

O sim defende o aborto assegurado pelo estado apenas dependente da decisão da mulher... vamos criar dois cenários hipotéticos:

A mulher A, não deseja ter filhos, toma todas as precauções para evitar uma gravidez indesejada...

A mulher B não deseja ter filhos, mas não toma quaisquer precauções para evitar uma gravidez indesejada...

Ambas engravidam, a mulher A resultante da falha dos meios anticoncepcionais (o sim não se cansa de indicar que estes são bastante falíveis e que são umas das justificações para liberalizar o aborto...), a mulher B resultante da sua conduta descuidada e negligente...

De acordo com o que é defendido pelo sim, a mulher A e a mulher B teriam o mesmo tratamento... ambas teriam um aborto assegurado e pago pelo estado, nas mesmíssimas condições...

Tratamento igual para situações diferentes... uma conduta negligente tem o mesmo tratamento que uma conduta responsável...

Agora debrucemos nos sobre outro exemplo:

A mulher A comprou um carro novo. A mulher A efectuou todas as revisões indicadas pelo fabricante do veículo...

A mulher B comprou um carro novo. A mulher B não efectuou todas as revisões indicadas pelo fabricante do veículo...

Em ambos os carros avaria-se uma peça dentro do prazo de garantia... a mulher A tem direito a que o fabricante substitua a peça sem quaisquer encargos da sua parte, a mulher B não respeitou as regras e por isso têm que suportar os encargos de substituição da peça...

Tratamento diferenciado para situações diferentes... até parece simples não é...

Antes que os defensores do sim venham puxar do argumento da falta de honestidade intelectual pelo absurdo de comparar crianças com peças automóveis, poupem o esforço... o que eu estou a comparar é comportamentos, um descuidado, negligente e irresponsável com um cuidado, responsável e consciente...

Condutas irresponsáveis não devem ter o mesmo tratamento de pessoas com comportamentos responsáveis...


Comments:
Um cidadão guia exemplarmente; outro anda em excesso de velocidade e faz ultrapassagens perigosas. Ambos têm um acidente. Suponho que o mtheman defende que o segundo seja deixado a morrer na beira da estrada, para aprender. Que é para isso que o Sistema Nacional de Saúde serve: para punir os cidadãos pelos seus erros. Nem que seja puni-los com filhos, que todos sabemos que só existem para castigar as pessoas.

Francamente...
 
...o erro da sua comparação, já agora (embora isso não seja o mais relevante), é que está a comparar o que fazem empresas privadas, para quem nós somos uma fonte de lucro, com o que faz, ou deve fazer o Estado, que tem a responsabilidade de nos assistir - é aquilo para que existe e o motivo porque pagamos impostos.
 
E como é que se faz a prova da negligência ou não da mulher????
 
a comparação também me parece um pouco absurda... por exagero teremos de criar um código de conduta... se formos menos bonzinhos somos escorraçados... O Não defende que nem em casos de violação se deva permitir o aborto... presumo que justifiquem isso com o facto da mulher ter provocado o violador... se é para comparações absurdas, acrescento esta...
 
E claro, todas as pessoas que tenham problemas de saúde porque não tem cuidado com o que comem, ou quem for atropelado por atravessar a rua fora da passadeira, e por aí fora, tudo fora dos hospitais e centros d saúde. Olhem, resolvia-se já a questão das sobrelotações e listas de espera, passavam a ser locais muito sossegados...
 
"Condutas irresponsáveis não devem ter o mesmo tratamento de pessoas com comportamentos responsáveis..."

E como é que se diferencia? Isto é, como é que se sabe que uma usava anti-concepcionais que falharam? Tinha direito a fazer o aborto baseado em quê? Na palavra da mulher que diz que tomou anti-conceptivo mas que falhou?
 
ou a liberalização do aborto é para todos os casos ou não é para nenhum...
pelo SIM - a mulher ter o poder de decidir se quer ter o filho
pelo NÃO - ninguém tem o direito de tirar a vida de um ser, que é considerado já um ser humano...

Ainda acrescento:
aquelas mães que maltratam os filhos como ouvimos falar na comunicação social, abusos sexuais, ,violência, etc, devem ter direito a ser mães??? Eles devem vir ao mundo para ser maltratados? Ou devem ser desejados e ser amados nascidos de uma família de pai e mãe, que os respeite?
isto do aborto é um tema mesmo muito polémico...mas creio que desta vez a resposta será certeira!
 
já estava à espera deste tipo de reacção :)

1 - se um cidadão tem um acidente por ter tido uma condução imprudente é punido... não o deixando morrer à beira da estrada mas aumentando o prémio do seguro ou com interdição de conduzir... não é preciso entrar em extremos absurdos...

2 - o estado tem a função de assistir os cidadãos mas não a qualquer custo... se eu, como funcionário do estado, tiver um acidente em serviço por comportamento negligente da minha parte, o estado não se responsabiliza por nada... pago eu do meu bolso!!!

3 - prova da negligência, ora aí estaria uma discussão mais inteligente... sinceramente não sei se existe possibilidade prática, mas acho que seria de discutir essa possibilidade...

4 - a minha questão foi colocada não em termos de sim ou não... coloquei a hipótese de o sim vencer e coloquei o problema do tratamento de casos diferentes de forma idêntica, apenas isso... a questão dos abortos por violação ou malformação do feto não contribuem nada para o problema que coloquei... mas existem pessoas que nem esses aceitam...

5 - voltámos aos extremos... eu não disse que os comportamentos negligentes não deveriam ter resposta... eu apenas coloquei a hipótese do comportamento negligente poder ser punido com o pagamento da intervenção por exemplo...

6 - respondido em 3

7 - respondido parcialmente em 6; quanto ao acrescento que fazes, ninguém sabe à partida se os pais vão ser ou não responsáveis, quer o filho seja desejado ou não... existem casos de filhos "não desejados" que foram amados e criados com dignidade e existem exemplos de filhos desejados aos quais não foram proporcionados esses direitos...

peço desculpa pelas respostas tardias mas tenho andado ocupado. obrigado pelas intervenções e voltem sempre, mi casa es su casa!
 
:)

hi mtheman

tou farta desta cena do SIM e do NÃO, eu vou votar SIM, pq o aborto sempre existiu logo vai sempre continuar a existir, de nada adianta um NÃO...
Há algo q me desagrada no NÃO, a falta de sensiblidade para c a mulher...
a consciencia pesará a qm ele recorrer, c mais ou menos intensidade, dependendo do humanismo de cada um.

xinhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuus pa tu da lua
 
mtheman, não pode confundir as regras dos seguros, que são negócios privados entre companhias e indivíduos, e o que é o papel do Estado e do SNS. Talvez os seguros de saúde não venham a pagar abortos a pedido. Mas isso é outro assunto.
O tal cidadão-mau-condutor é levado de ambulância e atendido no hospital público tal e qual qualquer outro. O que o seguro faz não vem para o caso.
 
mas desde quando engravidar é um acto de negligência?? e apanhar uma gripe não é negligente? se andares ao frio... e o Estado não te comparticipa os medicamentos? Se é para entrar pelo absurdo, a discussão torna-se fácil...
 
ao estado cabe prestar-lhe a assistência... correcto

ao estado cabe suportar os custos dessa assistência... nem sempre

era só aí que queria chegar!!!

quanto à gravidez negligente: mulher que não quer engravidar que pratica sexo sem recorrer a qualquer meio anticoncepcional... para mim não é um comportamento inteligente ou um azar... é um comportamento negligente... não percebo onde está o absurdo...

e comparticipar não é sinónimo de custear na totalidade... a não comparticipação na totalidade é exactamente uma forma de responsabilizar as pessoas...
 
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