terça-feira, fevereiro 20, 2007

 

Xica esperta portuguesa...

Faz uns tempos assisti num telejornal da televisão portuguesa a uma reportagem sobre uma jovem que vivia numa instituição para crianças carenciadas, que seria campeã nacional das olimpíadas de matemática.

A jovem frequentaria o 2ºano da faculdade e seria a representante portuguesa nas olimpíadas europeias da matemática que se realizariam em amsterdão... segundo a mesma, teria já ofertas de bolsas de estudo e convites de várias universidades internacionais conceituadas...

Mas afinal era tudo uma grande mentira... e a mentira durou cerca de 1 ano... sónia ainda nem o 12ºano concluiu... forjou documentos a partir de originais e retirou outros da net...

Chegou mesmo a deslocar-se à holanda para a suposta participação nas olimpíadas europeias de matemática...

Justificação para todas estas mentiras, o facto de ter atingido a idade limite para ficar na casa onde cresceu, não ter família nem sítio para onde ir... a continuação dos estudos era a porta aberta para poder continuar na instituição...

Se com o mesmo empenho a que se dedicou a fabricar esta mentira, se tivesse dedicado um bocado aos estudos talvez não tivesse de mentir...

 

Inteligência II... ou a ausência dela...

Num post atrasado utilizei a ideia de António José Teixeira no DN, "A vitória do "sim" não deve ser lida como uma vitória partidária, mesmo se a esquerda tem razões de contentamento."

O sr engenheiro sócrates tem vindo a referir que, após o referendo, há um debate a fazer na assembleia da república que deve ser valorizado...

Mas o sr engenheiro deveria ter falado com o sr presidente da sua bancada parlamentar...

"Na abertura das jornadas parlamentares do PS, o presidente da bancada socialista, Alberto Martins, deixou o aviso: «Ninguém fará esta lei por nós». Martins queria com isto dizer que os partidos que defenderam o ‘não’, assim como os movimentos que estiveram nesse campo, já nada têm a ver com o processo."

Já não tem o sr engenheiro nada a ver com o seguinte...

"o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, tinha avisado que os parceiros certos para fazer a nova lei são os partidos de esquerda: «Seria estapafúrdio que o PS, que tem maioria absoluta, procurasse negociar e concluir uma lei com aqueles que estão contra a questão de fundo que essa lei vai comportar»"

Em vez de uma lei resultante de discussão numa sessão da assembleia da república, no respeito pela democracia representativa parlamentar, ainda vamos assistir a uma lei "nascida" num qualquer vão de escada do palácio de s.bento...

 

Inteligência...

Sempre que foram efectuadas quaisquer referências a eventuais dúvidas e equívocos na decisão de efectuar um aborto por parte de uma mulher, fui arremessado com o argumento de que estaria a colocar em causa a racionalidade e inteligência da mulher para conscientemente optar por tal decisão...

Continuo a considerar que determinados acontecimentos na vida de uma mulher poderão "tendencialmente empurrá-la" para a decisão mais fácil, que não necessariamente a melhor solução...

Mas, deparo-me com afirmações destas:

"O líder parlamentar do PS reiterou hoje a oposição da maioria socialista ao aconselhamento obrigatório para as mulheres que pretendam realizar um aborto até às dez semanas, considerando que este mecanismo colocaria em causa «a livre decisão autónoma» da mulher"...

Onde é que anda a inteligência das mulheres para este senhor... mas ele não ficou contente e foi mais além...

"Alberto Martins garantiu que «não há qualquer hesitação no PS». «O que sempre dissemos, o que todos dissemos, é que haveria um período de reflexão: há uma consulta, há um período de reflexão e há decisão da mulher. Ponto final», afirmou."

mas ainda acrescentou...

"Nessa consulta, será facultado à mulher «um conjunto de informações que favoreçam a formação da sua livre, consciente e informada decisão».«Trata-se pois, e tão só, de informação para uma decisão fundamentada», sublinhou."

Esperem lá... não podem existir consultas de aconselhamento porque contrariam a livre decisão autónoma da mulher... mas podemos facultar à mulher (numa consulta!!!) um conjunto de informações que favoreçam a formação da sua livre, consciente e informada decisão...

Será que aconselhar não é facultar informação para uma decisão fundamentada...

Será que este sr. tem medo que alguma mulher decidida a fazer um aborto possa mudar de opinião por lhe ser facultada informação adicional... ou será que não confia na inteligência de uma mulher para tomar uma decisão livre...

terça-feira, fevereiro 13, 2007

 

Terminou... não, começou agora!

Depois da festa de anteontem (como se a despenalização/liberalização da IVG fosse algum troféu...), assistimos finalmente a algumas considerações responsáveis... a verdade é que a partir deste momento não está mais em causa a despenalização/liberalização do aborto mas a criação de um quadro legal tendente à implementação da decisão do povo português, no respeito pelo resultado do referendo.


Algumas considerações: desde logo, a persistência no erro por parte de quem não viu consagradas as suas convicções... minimizar o resultado do referendo por não ser vinculativo, é ridículo! Tal como no referendo anterior em que o sim enveredou pelo mesmo caminho, defender tal raciocínio demonstra simplesmente um profundo mau perder...


Mas se o mau perder pode ser em parte compreendido, o mau ganhar é ainda mais ridículo... referir que a elevada abstenção significa que os portugueses não desejavam o referendo e que, ao invés, desejavam que a decisão tivesse sido tomada no parlamento só poderia ter origem no partido político intelectualmente moribundo donde proveio... continuar a apontar o dedo acusatório aos que não viram as suas convicções vingar, considerando-os um obstáculo ao que ainda está para vir, numa estratégia conflituosa de contra tudo e contra todos... simplesmente vergonhoso para ser eufemisticamente correcto... enfim, estamos perante mais um D.Quixote, sedento de protagonismo, com os seus moinhos de vento...


O que interessa agora é discutir a implementação da despenalização/liberalização da IVG. Anteontem, já assistimos a pequenos discursos cirúrgicos acerca de pormenores que não foram aflorados aquando da campanha: a assistência médico-psicológica necessária, a tão apelidada durante a campanha de "mesquinhez" das necessidades humanas, físicas e monetárias do sistema nacional de saúde, o aprofundar das políticas de planeamento familiar e educação sexual... no fundo, o que era apontado como não estando relacionado com a pergunta... por outras palavras, o que não interessava discutir...


E começam desde logo a colocar-se interrogações... existem listas de espera e sempre foi afirmado que os abortos realizados pelo sistema nacional de saúde não iriam causar efeitos perniciosos nas mesmas... mas como... ou existem recursos que não estavam a ser utilizados ou então vai haver um aumento desses recursos... mas se existia a possibilidade de aumentar esses recursos, não deveriam os mesmos estar a ser utilizados actualmente no combate a essas listas de espera...


Por outro lado, ouvi pela primeira vez ser afirmado que a grande maioria dos abortos serão realizados por via química sem necessidade sequer de internamento... ou como a dra. edite estrela explicou ao médico gentil martins, comprimidos... reconheço o meu desconhecimento acerca da prática da realização do aborto, mas estranho aquela afirmação... uma das grandes bandeiras da campanha era o combate ao aborto de vão de escada e não o combate ao tráfico de pílulas abortivas...


Assistimos também aos responsáveis por clínicas de aborto estrangeiras afirmarem que se encontram em fase de instalação no nosso país. O sr. ministro da saúde já admitiu a possibilidade do reencaminhamento dos abortos que não possam ser assegurados pelo sistema nacional de saúde para clínicas privadas... mas como vai ser compatibilizado o negócio dessas clínicas com o acompanhamento psicológico que se pretende de dissuasão... ou será que vamos repetir o exemplo espanhol onde o psicólogo se limita a ser uma via verde para a realização do aborto...


Na minha opinião, o que se irá seguir ainda será mais interessante. Já não teremos que assistir a debates mais inflamados, uma vez que já não estarão em causa convicções pessoais. Essa questão encontra-se ultrapassada. Agora, estão em causa temas mais concretos e pragmáticos, que convém que todos acompanhemos com a devida atenção. E todos deverão contribuir de uma forma positiva para se atingir a melhor solução possível!


Relativamente aos movimentos que não viram as suas convicções vingar, é esperar que se mobilizem para fazer ainda com mais intensidade e vontade aquilo que têm vindo a fazer nos últimos anos em substituição do estado... apoiar as mulheres grávidas que têm dificuldades e não têm as condições desejáveis para poder ter uma criança... na minha opinião, será esta a única resposta válida aos acontecimentos.


Termino com uma ideia de António José Teixeira no DN, "A vitória do "sim" não deve ser lida como uma vitória partidária, mesmo se a esquerda tem razões de contentamento. A IVG não é um troféu. É um drama que deve exigir acompanhamento e regras claras para atitudes responsáveis".


Vamos esperar então por esse acompanhamento e por essas regras claras para atitudes responsáveis...


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